segunda-feira, 19 de março de 2012

A TRAJETÓRIA DA CONSCIÊNCIA (2002 - Entrevista Revista Sexto sentido)

O Centro de Difusão de Estudos da Consciência vem realizando um trabalho dos mais interessantes no que se refere aos estudos da consciência, não apenas incorporando diferentes correntes de pensamento e pesquisa, mas desenvolvendo métodos próprios de tratamento.

Gilberto Schoereder




Atuando desde 1998 – mas com raízes nos anos 80 – o Centro de Difusão de Estudos da Consciência dedica-se ao estudo, pesquisa e tratamento da consciência com métodos científicos, igualmente se baseando na filosofia e em diversas outras tradições.
O objetivo, segundo explica a psicóloga e psicoterapeuta Hermínia Prado Godoy – diretora-sócia e presidente do Centro – é estudar a espiritualidade com ponto de vista científico e desenvolver técnicas que tragam autoconhecimento e crescimento para as pessoas. Entre essas técnicas, estão as relacionadas à terapia regressiva que, segundo explica Hermínia, vai além da psicologia, e serve como um instrumental de acesso à consciência, estudando-a em sua multidimensionalidade.
Os estudos desenvolvidos pelos cientistas do Centro de Difusão propiciaram, assim, uma nova compreensão da terapia regressiva, sua sistematização e a construção da conscienciologia, que vai além da psicologia e da terapia regressiva, uma vez que pretende compreender e tratar das patologias que envolvem o espírito em sua trajetória evolutiva.
A Sexto Sentido conversou com Hermínia Prado Godoy para saber mais sobre o trabalho desenvolvido no Centro de Difusão.


Quem começou o trabalho de vocês?

Sobre a consciência humana, em 1990, quando foi fundado o Centro de Estudo e Pesquisa da Consciência. Entretanto, minha formação como psicóloga e pesquisadora clínica, em 1980. Fiz toda uma formação em psicologia comportamental e, portanto, sempre fui voltada para a pesquisa do inconsciente. Depois de um tempo, associei-me a pessoas que estavam pesquisando como acessar o inconsciente profundo. Houve uma vertente da comportamental que estudava especificamente o mecanismo da mente, e estudei com o pessoal dessa área, como o doutor Michel Chebli Maluf e o doutor Lívio Túlio Pincherle. Eles pesquisavam a hipnose para acessar o inconsciente profundo e, na década de 80, os terapeutas começaram a acessar o que chamariam de vidas passadas.
Esse grupo – do qual eu vim a participar efetivamente em 1986, com a terapia de vida passada – já se reunia desde 1982, pesquisando e trabalhando com técnicas indutivas, descobrindo que os pacientes entravam em vivências que poderiam ser de vidas passadas.
Em 1978, foi lançado um livro de Morris Netherton e Edith Fiore em que eles diziam que, também nos experimentos com a hipnose para acessar o trauma original, eles encontraram vidas passadas ou o que parecia ser um elemento de vidas passadas.
Aqui, nós somos psicoterapeutas, então nós vemos o efeito disso. Eu não estou pesquisando se é verdade ou não, ou qual linha teórica está sendo seguida. Eu me considero dentro da ciência de pesquisadores e investigadores. Uma das hipóteses é que se trataria de uma recordação de vidas passadas; mas trabalhamos com outras conjecturas, que vão desde a possibilidade de uma fantasia até realmente memórias de vidas passadas.
Também não estamos investigando se existe espírito, como ele é ou se existem outros níveis. Somos pesquisadores clínicos e queremos técnicas eficientes que levem a pessoa a sair do problema que apresenta.
Assim, a conclusão científica a que se chegou com o trabalho desses autores foi que não sabemos do que se trata. Por outro lado, podemos dizer que as técnicas funcionam e são eficientes para a remissão dos sintomas, ainda que isso não seja uma norma geral.
Eu participei da fundação da Associação Brasileira de Terapia de Vidas Passadas, em 1987, mas saí de lá em 1998, porque era muito difícil fazer um trabalho de pesquisa em que todas as pessoas tivessem a mesma ideologia e direcionamento, mas que exatamente por ser uma associação, não pode ter uma única vertente. Aqui no Centro pudemos direcionar os trabalhos para a pesquisa psicoterapêutica.
Como não são todas as pessoas que respondem à “vida passada”, desenvolvemos métodos psicoterapeuticamente mais eficientes para acessar o inconsciente profundo, de uma maneira mais simples, sem tanta hipnose.Existem duas vertentes: uma que usa mais a hipnose indireta, que leva a pessoa ao transe e, depois, entra na vivência: e a direta, que fornece estímulos subliminares ou emprega palavras-chave. Nós aplicamos mais esta última: a pessoa está consciente e outra memória surge ao mesmo tempo. Isso acessa o inconsciente de forma mais acelerada. Por exemplo, se eu focar um problema que atormenta a pessoa, como dificuldades relacionadas com a filha, ela focalizará a atenção na filha, o que ela sente e, focando aquela situação, ela já está na situação . A pessoa já está mobilizada.
Na verdade, as técnicas psicoterapêuticas regressivas que se veiculam como modismo por aí, dizem que vão levar a pessoa para uma viagem astral, para um encontro com ela mesma. Aí está a grande diferença de nós, psicoterapeutas, que usamos essa técnica. Na verdade, nós desligamos o passado que está presente. É só saber reconhecer, no conjunto do que a pessoa fala, o que está repercutindo do passado. Então, na verdade, psicoterapicamente, você não leva a pessoa para o passado; você desliga o passado que está no presente.

O que é a hiperconsciência? É uma consciência universal, é mais do que o inconsciente coletivo?

É individual. Nós temos uma consciência maior, um centro de força e de energia inteligente. E isso é indestrutível. A pessoa tem uma identidade energética inteligente, e eu acho que isso é que a alimenta e dá a sua individualidade. Foi criada a centelha divina; a pessoa é criada e tem sua própria evolução com as várias vivências que tem na Terra, fora da Terra, seja onde for. Eu sou edição mais concentrada e melhorada de mim. Então, eu estou aqui melhorando ainda mais, e amanhã eu vou ser uma luz que brilha mais, caminhando para uma evolução. Então, eu sou uma energia inteligente.
Acredito que quanto mais nós nos ligamos a essa fonte de energia inteligente que possuímos, mais nos distanciamos das emoções e dos trancos do dia-a-dia. Temos uma visão melhor da vida, com mais lucidez e autonomia.
Concordo com o Gurdjieff, que afirmava – pelo menos, há trinta anos ele dizia isso – que 90% da população estava dormindo, inconsciente ou em coma, e 10% estava acordada. E destes, apenas 1% estava trabalhando o inconsciente. Acho que temos de acordar a humanidade para a realidade espiritual. Nosso colega, o falecido dr. Maluf, falava muito sobre a teoria dos anjos caídos, dizendo que nós encarnamos aqui e perdemos nossa dimensão consciencial. Então, acho que o movimento hoje é pela ética, pelo resgate de princípios e valores espirituais que podem estar nos conectando, mantendo essa conexão e a autonomia. A terapia da regressão entra nessa história ajudando a pessoa a se desligar, a entender seu passado porque, se ele está presente, é porque ele está apontando para aquilo que a pessoa deve trabalhar um pouco. E, depois, rever seus valores, caráter e postura.

Eu vi no site do Centro de Difusão que vocês usam a palavra conscienciologia. Isso tem algo a ver com as teorias de Waldo Vieira?

Posso dizer que sim e não. Em 1997, quando resolvi estudar mais a consciência e me aventurar na neurociência, conheci Samuel de Souza, que foi um dos dissidentes do espiritismo, e fundou a projeciologia com Waldo Vieira e Wagner Borges em 1985. Samuel se interessou pelas coisas que eu dizia sobre consciência e sugeriu que eu fizesse o curso de projeciologia do Waldo Vieira. Eu fiz, para me inteirar do linguajar, entender o que era, e achei a maioria das respostas que eu queria, principalmente no sentido da ética, o conceito de projeção astral, a nossa entrada e atuação nas multidimensões. A pessoa está saindo do corpo mental, do seu emocional. Ele dizia que a pessoa saía para a dimensão 3,1; 3,2; 3,3; etc. Isso fez sentido para mim porque, como pesquisadora clínica, preciso ter ouvidos para me interessar por uma coisa diferente. Essas coisas me interessavam porque eu via, nos depoimentos dos meus clientes, essa possibilidade de existirem várias dimensões que as pessoas pudessem acessar. Por exemplo: a pessoa está pensando na mãe e esta lhe telefona. Como isso aconteceu? Que dimensão eu acessei?
Em nossos cursos, o que fazemos primeiro é introduzir esse aspecto da espiritualidade, de acordar as pessoas para essa realidade multidimensional que possuímos. O segundo conceito básico é a teoria, e apresentamos às pessoas tudo o que compilamos nesse sentido. É uma quebra de preconceitos para que, primeiro, elas entrem em contato com esse tema, uma vez que sempre ocorre um choque para algumas pessoas que não estão acostumadas com esse linguajar.
No curso intermediário, já entraríamos na parte prática, técnica, e abordamos a projeciologia, o que outras vertentes psicológicas nos trazem e o que nós desenvolvemos. Muitas das coisas que são apresentadas como sendo “trans” ou “para” são fruto da percepção sensorial. Quando a pessoa entra num ambiente e se arrepia ou se sente mal, é porque ela está fazendo uma leitura energética com o seu corpo energético. E se você sente o que eu estou sentindo, isso é uma percepção sensorial que todas as pessoas têm. Então, pensamos com energia e com emoção.
Eu fiz um curso com Samuel, aprendi muito com ele e concordo com os seus conceitos de projeção, etc. A base dele está na cosmoética e eu tiro o chapéu para isso. Existem limites; a pessoa tem uma trajetória e um caminho próprios que eu tenho de respeitar, de modo que tem um tempo certo para ela se desligar. Ela está num processo de vida, e eu não tenho a autoridade para interromper. Como terapeuta, você acompanha a pessoa e lhe dá a oportunidade. Quando acontecem os problemas, você pode ajudá-la a se livrar e a dar a resposta certa e, automaticamente, ela se livra – ela aprendeu a lição. Assim, eu não trabalho com o conceito de punição, de carma ou pecado. Eu acho que a pessoa está aqui e muitas chances são apresentadas para que ela se acerte em sua trajetória. Quando tem de aprender uma lição, esta lhe é apresentada várias vezes, em holofotes, em painéis enormes, até a ficha cair. Então, penso que o trabalho do terapeuta é de caminhar junto com a pessoa.
Eu gosto da conscienciologia. Ela vem somar e o que estamos fazendo aqui no Centro de Difusão é utilizar alguns conceitos. Acho que a nossa consciência é diferente da consciência do Waldo, assim como a maneira de abordar a questão, o treinamento, as técnicas. É mais uma teoria que vem reforçar, como a teoria transpessoal. Eu não me considero transpessoal, mas acho que tudo é válido.
Para saber mais:
Livro – Terapia da Regressão – Ed. Cultrix

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